Imagine a cena: finalmente você encontrou aquele tempinho para se cuidar, fazer algo que gosta ou apenas descansar. Ô glória! Mas eis que surge uma emergência. É um parente precisando de algo, um amigo pedindo favor, o marido querendo que você passe a camisa dele ou resolva algum problema… e lá se vai o seu tão sonhado tempo livre. Isso parece família? Então continua comigo que você vai aprender a ver isso de outra forma.
Quando eu vejo uma pessoa sempre correndo de um lado para outro socorrendo todo mundo, resolvendo problemas e pepinos, eu costumo falar que ela tem “complexo de bombeiro” porque vive apagando incêndios.
Toda hora é um problema diferente, é alguém pedindo ajuda, chamando, querendo atenção e tempo. E toda hora você tem que deixar de lado o que está fazendo para socorrer essa pessoa. E isso vem se repetindo há muito tempo, talvez anos. Você nunca encontra tempo para si mesma, aquele curso fica para depois, o projeto é adiado, o sonho pode esperar… tudo porque sempre tem alguém querendo a sua ajuda. E ajuda custa tempo.
Quando atendo uma mulher nessa situação, eu costumo perguntar: “já pensou em apenas dizer não?”.
Sim, elas já pensaram nisso muitas vezes. Não foi dessa vez que eu inventei a roda. Elas entendem que precisam impor limites e falar não, mas entender e fazer são coisas diferentes.
Imagino que você também tenha pensado várias vezes em falar não. Como se sente quando pensa isso? Muitas mulheres sentem culpa.
Elas acham que é dever delas cuidar de todos, que as pessoas precisam delas e tudo vai desmoronar se não fizerem nada. Para a mulher que tem complexo de bombeiro, recusar apagar um incêndio se torna impensável. Ela sente culpa, medo da rejeição, medo do que o outro vai pensar, como vai reagir, se vai ficar magoado… isso quando não ouve chantagem emocional, choro e insistência.
Por que alguém aceitaria esse tipo de coisa? Uma das razões é achar que só tem valor quando é útil. Pode ter começado lá na infância quando seus pais faziam cobranças e impunham condições:
“Se você continuar assim, vou parar de gostar de você.”
“Você devia se esforçar mais, olha tudo que eu faço por você.”
“Você me dá tanto trabalho, custa colaborar um pouco?”
“Se você me amasse, não me desobedeceria.”
E lá está a criança se esforçando para agradar pais cada vez mais exigentes. Essa criança só sentia que tinha valor quando era útil, quando fazia algo pelos pais ou agradava. Só assim para terem algum elogio ou reconhecimento (se é que tinham). Como essa criança vai ser quando crescer?
Certamente alguém que acredita que só tem valor quando apaga os incêndios de todo mundo. Afinal, a sua autoestima foi minada durante a infância porque a fizeram acreditar que você não tem valor pela pessoa que é e sim pelo que tem a oferecer.
Talvez você sinta que SEMPRE precisa ajudar e se deixar de fazer isso, todos vão te odiar. Ou tudo vai desmoronar e a culpa será sua. Mas vem cá… você já parou para pensar que talvez esses problemas não sejam tão urgentes assim? Que, talvez, se a pessoa ouvir um não, ela vai se arranjar de outra forma? Que o mundo não vai acabar só porque você decidiu não carrega-lo nas costas?
Pode ser que a pessoa pareça mesmo desesperada, que precisa muito de ajuda. Ou pode ser que isso seja apenas a sua crença. Você acha que é assim, não quer dizer que seja verdade. Ou a pessoa só está dramatizando um pouco para te pegar pela culpa. Enfim… na grande maioria das vezes eles vão sobreviver e ficar bem.
Ah, claro. Ainda tem o medo de ser odiada e perder o (suposto) afeto dessas pessoas. Bem… quem te ama de verdade pode até não gostar dos limites que você coloca, mas ainda assim entende e respeita. Quem te ama também quer o seu bem e entende que você também precisa ser cuidada. Se a pessoa não entende, se faz drama, chantagem emocional, ameaças, etc. acho difícil acreditar que ela te ama, talvez nem se importe com você.
A mágoa que você tanto teme despertar nessas pessoas geralmente é inconformismo por você não aceitar mais apagar os incêndios delas. Elas se acostumaram com você de um jeito e não vão aceitar se as coisas mudarem. Paciência, você não pode viver assim para sempre só porque elas querem.
A melhor forma de superar isso é aprender a viver sem a aprovação delas e não se importar mais com o que pensam. E para conseguir isso, você precisa aprender a desenvolver sua autoestima. Só assim você terá segurança e assertividade para colocar limites sem se sentir culpada nem ferida caso essas pessoas se afastem.
Tendo autoestima, você terá consciência do seu valor e daquilo que merece. E nunca mais aceitará menos. Bem… e como faz para ter autoestima?
Isso é assunto para outro texto, não se preocupe. Um passo de cada vez. No momento, apenas reflita um pouco e pergunte se você tem complexo de bombeiro. Você também costuma apagar os incêndios dos outros?
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